No terceiro e último post sobre Cannes e alguns passeios alternativos ao jet set na região, vamos falar mais um pouco mais sobre as Ilhas Lérins. No primeiro post, contamos sobre Grasse: vinhos, conquistas e perfumes. Aprendendo tudo isso com Napoleão. No segundo, também falamos sobre Lérins, mas lembre-se, este arquipélago de 4 ilhas no Mediterrâneo bem na costa da Riviera Francesa, pertinho de Cannes, é composto por 2 ilhas menores, desabitadas:
- Îlot Saint-Ferréol
- Îlot de Tradelière
E por outras 2 maiores com muitas histórias e lendas. No segundo post falamos sobre uma delas, A Ilha de Sainte-Marguerite. Romanos, piratas e o homem da máscara de ferro no meio de uma lição sobre ânforas. E agora vamos falar sobre a outra, a Ilha de Saint-Honorat.
Saint-Honorat
A Ilha de Saint-Honorat leva o nome do fundador do Mosteiro de Lérins, datado 410, São Honorato. Honorat, natural da Gália, filho de uma família nobre, foi convertido e batizado novamente na adolescência. Atraído pelo ideal monástico, aposentou-se com seu irmão Venance em uma propriedade da família. Depois da morte do irmão, Honorat chega à ilha que hoje leva seu nome com alguns companheiros e só a deixou 20 anos depois para aceitar a sede episcopal.
Os séculos V e VI são chamados de “idade de ouro” de Lérins. Seus monges mais famosos tornam-se bispos de cidades importantes da França e contribuíram fortemente para a cristianização da Provença. A lenda diz que até São Patrick veio a Lérins para observar a vida monástica por alguns anos.
Um monastério fortificado foi construído entre os séculos XI e XIV, do qual hoje só restam ruínas à beira-mar. Ainda hoje vive aí uma comunidade de monges cistercienses, num mosteiro construído no século XIX.
O transporte para a ilha leva uns 15 minutinhos em barco e você pode comprar sua passagem lá no cais de Cannes mesmo ou pelo link Navettes. Votre passeport Ile Saint-Honorat.
A dica em relação a alimentação permanece. Este é um passeio que leva quase um dia inteiro. Há 1 restaurante na ilha, além da lojinha, então vale levar lanche e bebida. Minha sugestão neste post é outro prato típico provençal, a pissaladière. Uma mistura surpreendentemente suave de cebolas caramelizadas, anchovas e azeitonas sobre uma massa de pizza crocante.
Ora Et Labora
Mesmo que o dia de um monge gire ao redor de suas orações e todas suas atividades convirjam em direção a elas, a oração e o trabalho constituem a base da vida monástica. Quando você visita um monastério normalmente aprende sobre como os monges trabalham duro e em silêncio para sustentar não só a si como para ajudar as comunidades carentes próximas. É uma emoção a mais que o vinho e a cerveja proporcionam.
Portanto, os monges cistercienses de Saint-Honorat dividem o seu tempo entre a oração e a produção de vinho, mel, biscoitos, produtos de cuidados pessoais a base de óleo de lavanda e Lerina, um licor de ervas.
Visite a lojinha dentro do mosteiro, é uma maneira de ajudar os monges a se manterem.
Mas se você não espera desta visita apenas conhecer o mosteiro e trazer umas lembrancinhas, não se preocupe. A ilha é um lugar excelente para se caminhar, desfrutar da natureza, tomar sol e relaxar. Porém, observe o silêncio e a discrição, aliás garanto que você vai se sentir inspirado a isto neste local que é pura paz e contemplação.
Outra atividade disponível é fazer um retiro espiritual de até 1 semana (mínimo de 2 dias) com os monges. Eles têm quartos privativos, na base de € 50 a diária, mas você leva sua roupa de cama e banho, compartilha as refeições com eles e é esperado que ajude nas tarefas diárias do mosteiro. Detalhe: eles fazem voto de silêncio, assim não espere bater papo. O hotel fecha entre novembro e dezembro. Cheque as datas no link.
O terroir
Olha todo terroir diz que é único, mas imagina uma terra entre o azul-celeste da Baía de Cannes e as águas azul-turquesa do Mediterrâneo, rica em história, luz e oração com vinhas de 16 séculos de história.
O solo é composto por rochas sedimentares, principalmente calcário e dolomita (que mantém o solo neutro). Na superfície, a rocha é coberta por uma espessura de 30 a 120 centímetros de argila vermelha. O clima, obviamente, é mediterrâneo: sol excepcional durante o dia e à noite o ar carregado de umidade. O sal depositado pela brisa do mar proporciona uma limpeza natural. Ao contrário da Ilha Sainte-Marguerite que dependeu da cisterna construída pelo romanos para captar água, a Ilha de Saint-Honorta conta com uma fonte natural de água doce que evita o estresse hídrico. A área de vinha são cerca de 8 hectares, localizados na parte central da ilha. As vinhas têm de 25 anos a 80 anos.
O vinho
Existe vinho na ilha de Saint-Honorat desde a Idade Média, embora existia antes apenas para as necessidades da Eucaristia. Não foi até a década de 90 que a vinha foi reavivada profissionalmente com a descoberta de cinco micro-terroirs na ilha. O volume de produção é cerca de 40.000 garrafas.
A pequena produção dos vinhos do Monastério podem ser encontrados no restaurante Tour l’Argent que dispensa apresentações e também foram servidos para os chefes de estado no último encontro do G20 e no júri do Festival de Cannes em 2011, 2014 e 2015.
Toda a produção tem nome de santo:
- Saint Césaire (Chardonnay)
- Saint Honorat (Syrah)
- Saint Cyprien (Viognier)
- Saint Sauveur (Syran de Vinhas Velhas)
- Saint-Lamber (Mourvedre)
- Saint Salonius (Pinot Noir)

Eu provei o Syrah que é o mais em conta, mas maravilhoso. E você achava que vin de pays era sinal de falta de qualidade?
Mas prepare-se para ir ao purgatório ao pagar de 30 a 400 euros por uma garrafa de vinho, especialmente pelas estrelas da vinicola, o Pinot Noit e o Mourvedre.
Espero que tenham gostado. Voltamos logo com mais dicas de lugares e vinhos.