No segundo post sobre passeios alternativos para quem está em Cannes, na França, vamos falar sobre a encantadora ilha de Sainte-Marguerite.
A ilha é pequena, tem aproximadamente 3 km de comprimento (leste a oeste) e 900 m de diâmetro, ou seja, se você estiver no pique, pode percorrê-la inteira num passeio de um dia. Aliás essa é a primeira dica. Saia cedo e bem animado para ter tempo e energia para explorar tudo que a ilha oferece.
A viagem
Daí vem a segunda dica. A ilha tem um par de restaurantes e uma barraquinha que vende alimentos e bebidas, mas eu recomendo que na França, faça como os franceses. Compre seu lanche e sua bebida no continente, coloque na mochilinha e aproveite o melhor do pic-nic ao ar livre. Meu preferido é o ‘pan bagnat’. Essa delicinha é basicamente um sanduíche da tradicional salada Niçoise, ou seja, leva atum e ovo cozido. Compre em qualquer banquinha na beira da praia que deve dar tudo certo.
Chegar na ilha é simples. Você tem que ir até o cais de Cannes, procurar o guichê correspondente (ou mesmo por internet que é até mais barato) e comprar a sua passagem no barco que leva uns 15 minutinhos para chegar à ilha. No link você acha também os horários, mas cuidado que os horários dos barcos variam de acordo com a época do ano. Custa uns € 15 por pessoa.
Os primeiros habitantes
Dona de uma natureza exuberante que os franceses exploram cuidadosamente através de caminhadas e esportes aquáticos como esqui e parapente, a ilha atraiu muita gente a fim de problema, pois está posicionada estrategicamente na costa francesa. Por isso a ilha de Sainte-Marguerite já era habitada durante a época dos romanos, quando era conhecida pelo nome Lero.
Além disso, como a ilha era um porto de apoio na rota comercial entre a Itália e a Espanha, piratas invadiram as ilhas em 1180, depois vieram os genoveses em 1400 e os espanhóis em 1524.
A ilha foi renomeada provavelmente nos tempos medievais por cruzados, que construíram por lá a capela de Sainte-Marguerite. Segundo a lenda, Sainte-Marguerite seria irmã de Saint-Honorat (que dá nome à ilha vizinha) e levou uma comunidade de freiras para esta ilha que assim recebeu o nome dela.
Em 1612, a propriedade da ilha passou dos monges de Saint-Honorat para o duque de Chevreuse. Pouco depois, iniciou-se a construção do Fort Royal.
A vila de Sainte-Marguerite
A ilha conta com uma mini vilinha que se desenvolveu durante o século 18, graças ao poder de compra dos soldados estacionados por lá. Hoje a vila de Sainte-Marguerite é composta por cerca de vinte edifícios. A maioria destes são o lar de pescadores, mas há também um pequeno estaleiro e um par de restaurantes. O hotel da ilha foi fechado no verão de 2005.
O Fort Royal
Durante a Guerra dos Trinta Anos, os espanhóis ocuparam a ilha de 1635 a 1637 e iniciaram a construção do Forte. Após os espanhóis serem derrotados, o exército francês completou a fortificação da área. A prisão foi adicionada em 1637 e funcionou até o século 20. O Fort Royal foi considerado monumento histórico em 1927 e perdeu o seu valor militar em 1944, sendo adquirido pela cidade de Cannes em 1995.
A fortaleza foi o lar de um número de prisioneiros famosos, o mais conhecido foi o chamado Homem da Máscara de Ferro que morreu na Bastilha em 1703, pois o carcereiro encarregado dele tinha que levá-lo junto a cada transferência! Foi preso com o nome de Dauger e enterrado com o nome de Marchioly. Corria o boato que ele era um irmão ilegítimo do então rei Luiz XIV. O certo é que este prisioneiro ficou detido 34 anos, 16 dos quais no Fort Royal. Não tinha permissão para falar com ninguém e nem para tirar a máscara. Quando em público, era acompanhado de 2 guardas com instruções de matá-lo caso tentasse tirar a máscara. Depois da sua morte sua cela foi lixada e caiada e todos os seus pertences foram incinerados, incluindo a máscara de ferro (alguns dizem que era de veludo negro) que foi derretida. Eu, hein!
Obviamente os alemães não podiam ficar de fora desta e sua passagem pela ilha está registrada na presença de casa-matas e abrigos para canhões datando da Segunda Guerra.

Esta fornalha era usada para aquecer as bolas de canhões que atingindo os navios acabavam por incendiá-los.
2 cemitérios
Parece um pouco soturno, mas são pequenos e meio fora do caminho, se não estiver a fim, passe batido.
Um cemitério para os soldados franceses que morreram na ilha após o fim da Guerra da Criméia, pois foram levados à ilha por um período de convalescença.
E ao lado dele, um cemitério para os soldados norte-africanos que tombaram ao lado dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
O Museu do Mar
Visita que vale muito a pena. Instalado em uma antiga cisterna romana, o museu apresenta achados arqueológicos da região. São frutos de escavações na ilha e resgates do mar ao redor com itens recuperados de naufrágios romanos de 1 AC e naufrágios sarracenos do século 10. Os naufrágios são também interessantes para aprender como os antigos faziam o comércio e viviam.
A cisterna romana funcionava assim: a água era captada no teto de um templo, por exemplo, enchia estas salas e depois era distribuída pela cidade como vemos abaixo.
Outra especialidade dos romanos era a navegação. Evitavam navegar no Mediterrâneo no período que chamavam de ‘mare clausum’ devido às tempestades repentinas e aproveitavam de março a novembro para cruzar as rotas comerciais.
Até a Revolução Industrial, o comércio percorria principalmente rotas marítimas, pois o transporte por terra era muito caro e ineficiente. Em média, os barcos que cruzavam o Mediterrâneo levavam 100 toneladas de produtos. A viagem de Espanha a Roma durava cerca de 7 dias e passava pela ilha de Sainte-Marguerite. O comércio envolvia basicamente trigo, vinho e azeite.
O vinho era o que percorria mais rotas, pois a Grécia, Itália, França e Espanha trocavam seus produtos com frequência.
O dia foi mesmo incrível, mas acima de tudo, adorei ver a quantidade de jovens estudantes passeando pelas ruínas, brincando nos monumentos, respirando e vivendo a história de seu país. Há um pequeno albergue para que possam dormir na ilha. Muito legal mesmo.
Visite a ilha seja por sua beleza natural ou pela sua riqueza patrimonial, mas se você estiver no mesmo nível do bilionário indiano Vijay Mallya, compre um pedacinho de terra por lá para chamar de seu. Ele adquiriu em 2010 a propriedade conhecida como “Le Grand Jardin” ou “O Grande Jardim” e pagou entre € 37.000.000 e € 43.000.000. Repare na quantidade de zeros, não bastasse o valor estar euros….
Não perca nosso próximo post sobre mais um bom passeio para fazer se visitar Cannes.
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