A primeira abordagem: desbravando o inverno do Dão.
Janeiro pode ser uma época complicada para visitar vinícolas no hemisfério norte. As videiras estão no seu soninho anual e quem trabalha muito na vinha o ano todo além do enoturismo no verão, aproveita para tirar alguns dias de folga. O nevoeiro matinal, a chuva e o frio também não ajudam.
Mas como sou determinada, ano passado estava em Portugal a trabalho e parti com minha fiel GPS (a Mafalda) pelas estradinhas sinuosas. No fim, ela sinalizou que havia chegado ao meu destino e só vi um muro! Enfim, decidi explorar, enveredei por uma estradinha de terra e a única coisa que encontrei foram olhares céticos de algumas vacas. E um lamaçal. O carro atolou, consegui voltar, procurei uma via alternativa e não achei o que buscava, o Solar de Darei. Mas achei o rio Dão. Como tenho uma promessa de pôr os pés nos principais rios de Portugal, tentei fazê-lo. BBBrrrrrrrrrr. O vento e o frio mal deixavam eu me aproximar da água. Mas molhei a mão e fui embora, esperando retornar um dia.
Como dizem por aí: a terceira é a vencedora!
Finalmente, em junho deste ano, eu tive oportunidade de conhecer esta propriedade muito especial e seus vinhos vigorosos. E a surpresa foi maior que a esperada.
O Solar
Este casarão centenário comprado em 1997 pela família Ruivo, foi inteiramente restaurado usando materiais similares ao da época. Tudo reproduzido metodicamente, num trabalho que durou 7 anos e envolveu praticamente todos os membros da família.
Porém o mais legal é que eles não fizeram tudo isso só para a família. Darei é hoje um aconchegante e charmoso hotel rural. Você pode se hospedar num dos quartos da propriedade principal ou alugar a casa de hóspedes.
Além da hospitalidade portuguesa, em Darei você também pode desfrutar da boa gastronomia lusitana, tudo dentro de um clima muito rústico e ao mesmo tempo elegante. Cada cantinho da casa tem algo especial.
É nas verdadeiras relíquias espalhadas pelo solar, que o transformam quase que num pequeno museu que vemos a verdadeira vocação de Darei e de seus proprietários: o vinho. Autêntico vinho do Dão.
O Lagar de Darei
Por isso seguimos pelo assoalho de madeira, buscando o piso de pedra que vai nos indicar a proximidade da adega para por fim descobrir o segredo do vinho de Darei.
Aqui, a pisa é a tradicional portuguesa. A pé, no lagar de pedra, por mais ou menos 10 dias com temperatura controlada por cerca de 22 graus, buscando a melhor extração de aromas e sabores deste terroir que vamos em breve explorar.
As vinhas
Neste apego de preservar o melhor do passado, utilizando a ciência do presente, o cultivo das vinhas de Darei segue orientação orgânica, assunto sobre o qual temos falado muito. Um exemplo se vê na manutenção das vinhas: as ervas são parte do vinhedo, têm seu papel de forração. Ocasionalmente, são cortadas e servem de alimentos ovelhas criadas por ali perto.
O solo de granito arenoso, típico desta região, o vento e a insolação protegem da humidade do rio e da vasta vegetação, criando um microclima que de certa forma ajuda na proteção contra doenças.
Aliás a falta de humidade é tanta, especialmente de maio a julho que Darei desenvolveu um estudo com a Universidade de Viseu para monitorar a humidade do solo e assim regulam a rega para não atrasar a colheita.
Mas vamos aos vinhos
Desde já me desculpo por alguns rótulo que não estão atualizados. A vinícola os estava trocando na época da visita e eu preferi manter as fotos originais. Um detalhe interessante: o recorte que se vê nos rótulos é a silhueta do Rio Dão. Muito bacana!
1. Branco Private Selection 2012
Um corte de Encruzado, Malvasia Fina, Cerceal, Bical, Verdelho e Arinto. Fermentação feita em balseiros grandes de madeira, cerca de 40% do vinho, depois cerca de 10% do vinho estagia 2 meses em carvalho francês novo. O vinho revela, assim, aromas florais com um toque de madeira. Na boca, frutas brancas, complexo, mineral e uma boa acidez fazem deste um vinho muito gastronômico.
2. Reserva 2011
Elaborado com Touriga Nacional, Jaen, Tinta Roriz e Alfrocheiro. Aromas de fruta preta madura. Na boca acrescenta toques de cacau e especiarias.
3. Sem Abrigo 2011
Também elaborado com Touriga Nacional, Jaen, Tinta Roriz e Alfrocheiro. Sem estágio em madeira, com pisa a pé em lagar e envelhecido por 18 meses em cuba de cimento. Frutas vermelhas e toques herbáceos bem equilibrados.
4. José 2004
Mesmo corte dos anteriores, pois assim se trabalham as casta aqui. Deste não tenho fotos do rótulo, pois é uma recente homenagem ao patriarca da Casa de Darei e ao 15 anos da primeira vindima. Aromas de fruta vermelha madura, notas de cacau, especiarias e um balsâmico fresco muito interessante. Mostra a capacidade de envelhecimento dos vinhos do Dão e sua inegável elegância.
E nos despedimos de vocês, deixando convite para que venham ao Solar de Darei, desfrutem desta casa histórica e conheçam esta jóia do Dão, bem como seus vinhos.
bem interessante ,que reportagem maravilhosa.P
PARABÉNS.
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